A vida que buscamos
Por Luana Morena
Comecemos pelo final, por uma pergunta dura, postergada sempre, mas necessária para nossa reflexão: qual é o nosso prazo de validade? Bem, segundo o IBGE[1], 74 anos e alguns meses é a nossa perspectiva de vida hoje. Você acha muito? Você acha pouco? Claro que temos heróis que conseguem passar essa marca e exibem uma forma invejável aos 100 anos. Os avanços na tecnologia também prometem , quando não a vida eterna, uma longevidade muito além da barreira dos cento e alguns. Em maio deste ano foi publicada na revista científica Nature a descoberta de uma molécula produzida no hipotálamo (região do cérebro) responsável pela indicação ao corpo do momento em que começa o envelhecimento[2]. A pesquisa já promete uma longevidade maior em 20%, já obtida em ratos em que a produção da molécula foi desestimulada. Toda essa busca por vida nos faz refletir sobre o que a torna tão especial, tão desejada.
A partir de uma reflexão mais pessoal, intimista, o amor à vida surge das experiências agradáveis que acumulamos ao lado de pessoas com as quais nos relacionamos. As lembranças de momentos felizes e o convívio com entes queridos (leia-se família e amigos) são responsáveis em grande parte por apreciarmos tanto a experiência de vida na Terra, o que soa muito natural. Todos buscamos por felicidade e estar entre pessoas amigáveis torna-se um presente inestimável.
Outros que além deste grande prêmio por estar vivo, encontram em alguns hábitos sua outra razão de viver, como os profissionais apaixonados, que se sentem realizados quando alcançam o sonhado objetivo. Pense na alegria de Isaac Newton descobrindo o que era a força da gravidade: “responsável por prender objetos à superfície de planetas e [...] por manter objetos em órbita em torno uns dos outros.” Esses profissionais não são apenas aqueles que aparecem em livros didáticos, eles são encontrados também no dia-a-dia, salvam vidas em incêndios, em hospitais, mudam o modo de pensar através do diálogo, quebram preconceitos, emocionam com a representação de nós mesmos, tropeços e acertos.
Não é difícil achar também aqueles que devotam suas vidas a causas humanitárias, são os mais sensíveis entre nós, que se sentem impelidos a lutar para mudar uma situação de injustiça social, salvar a natureza, a água, o planeta, a comunidade sem esgoto, sempre guiados por uma causa nobre. A felicidade destes é mais fácil de ser alcançada; muitas vezes um sorriso serve como pagamento, mas outras vezes seguem lutando, morrem lutando, deixando a marca da sua existência entre nós e se despedindo por uma boa causa.
Não podemos nos esquecer dos seres humanos que passam pela Terra para emocionar os seus pares, se apaixonam pela arte, pela representação do drama humano, pela alegria estética, e tornam-se o registro do pensamento e do sentimento das sociedades. São os atores, poetas, os cantores, tocadores de trombeta, pintores expressionistas, grafiteiros. São os responsáveis por grandes tesouros da humanidade hoje, as obras de compositores como Beethoven, Chopin, Tom Jobim, Caetano Veloso, de grandes escritores, dos quais podemos citar Virgínia Wolf, Clarisse Lispector, João Guimarães Rosa, Patativa do Assaré ou atores, entre eles Charles Chaplin, Grande Otelo, Fernanda Montenegro ou Catherine Deneuve. Personalidades que superaram ou superarão a morte, pois suas obras permanecem sendo apreciadas pelos que ficam, num tipo muito nobre de eternidade.
Para os nossos alunos que acham que esses exemplos estão muito longe de nós, basta lembrar-nos de exemplos mais próximos. Há alguns dias tivemos aqui na escola a Orquestra Marafreboi, composta por músicos muito competentes e dispostos a compartilhar com nossas crianças e adolescentes a alegria que sentem numa roda de Maracatu ou em uma Ciranda. Partilharam conosco um momento que levaremos enquanto estivermos vivos, isso sim é uma recompensa.
Pense na palestra que tivemos para alertá-los sobre o perigo de abusos de adultos contra crianças e adolescentes: apesar dos vários casos que acontecem, alguém resolveu dizer não, dar a mão às vítimas e lutar contra este tipo de crime, que pode ter consequências muito tristes, o que é revoltante. São as lutas que justificam a vida.
A cada dia se aproxima o dia em que você poderá fazer alguma coisa, explorar aquilo que na vida te fascina e te faz sentir bem por estar vivo. Seja tocando uma música, na sala de aula, em uma quadra de esportes, dirigindo um carro, descendo um desfiladeiro, conversando com os amigos, criando uma grande empresa, ajudando a tirar uma baleia que encalhou na praia, está chegando a sua hora de decidir qual vai ser a sua contribuição, aquilo que te faz querer ajudar. Quando encontrarmos nossa razão para viver mais e o quanto puder, não importa quando, poderemos morrer em paz.
[1] http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/11/brasileiro-nasce-com-esperanca-de-vida-de-74-anos-e-29-dias-diz-ibge.html. Acesso em 08 de junho de 2013.
[2] http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2013/05/02/estudo-decifra-o-processo-de-envelhecimento.htm . Acesso em 08 de junho de 2013.
* Texto elaborado para atividades de alunos de sétima e oitava séries do Ensino regular.
Por Luana Morena
Comecemos pelo final, por uma pergunta dura, postergada sempre, mas necessária para nossa reflexão: qual é o nosso prazo de validade? Bem, segundo o IBGE[1], 74 anos e alguns meses é a nossa perspectiva de vida hoje. Você acha muito? Você acha pouco? Claro que temos heróis que conseguem passar essa marca e exibem uma forma invejável aos 100 anos. Os avanços na tecnologia também prometem , quando não a vida eterna, uma longevidade muito além da barreira dos cento e alguns. Em maio deste ano foi publicada na revista científica Nature a descoberta de uma molécula produzida no hipotálamo (região do cérebro) responsável pela indicação ao corpo do momento em que começa o envelhecimento[2]. A pesquisa já promete uma longevidade maior em 20%, já obtida em ratos em que a produção da molécula foi desestimulada. Toda essa busca por vida nos faz refletir sobre o que a torna tão especial, tão desejada.
A partir de uma reflexão mais pessoal, intimista, o amor à vida surge das experiências agradáveis que acumulamos ao lado de pessoas com as quais nos relacionamos. As lembranças de momentos felizes e o convívio com entes queridos (leia-se família e amigos) são responsáveis em grande parte por apreciarmos tanto a experiência de vida na Terra, o que soa muito natural. Todos buscamos por felicidade e estar entre pessoas amigáveis torna-se um presente inestimável.
Outros que além deste grande prêmio por estar vivo, encontram em alguns hábitos sua outra razão de viver, como os profissionais apaixonados, que se sentem realizados quando alcançam o sonhado objetivo. Pense na alegria de Isaac Newton descobrindo o que era a força da gravidade: “responsável por prender objetos à superfície de planetas e [...] por manter objetos em órbita em torno uns dos outros.” Esses profissionais não são apenas aqueles que aparecem em livros didáticos, eles são encontrados também no dia-a-dia, salvam vidas em incêndios, em hospitais, mudam o modo de pensar através do diálogo, quebram preconceitos, emocionam com a representação de nós mesmos, tropeços e acertos.
Não é difícil achar também aqueles que devotam suas vidas a causas humanitárias, são os mais sensíveis entre nós, que se sentem impelidos a lutar para mudar uma situação de injustiça social, salvar a natureza, a água, o planeta, a comunidade sem esgoto, sempre guiados por uma causa nobre. A felicidade destes é mais fácil de ser alcançada; muitas vezes um sorriso serve como pagamento, mas outras vezes seguem lutando, morrem lutando, deixando a marca da sua existência entre nós e se despedindo por uma boa causa.
Não podemos nos esquecer dos seres humanos que passam pela Terra para emocionar os seus pares, se apaixonam pela arte, pela representação do drama humano, pela alegria estética, e tornam-se o registro do pensamento e do sentimento das sociedades. São os atores, poetas, os cantores, tocadores de trombeta, pintores expressionistas, grafiteiros. São os responsáveis por grandes tesouros da humanidade hoje, as obras de compositores como Beethoven, Chopin, Tom Jobim, Caetano Veloso, de grandes escritores, dos quais podemos citar Virgínia Wolf, Clarisse Lispector, João Guimarães Rosa, Patativa do Assaré ou atores, entre eles Charles Chaplin, Grande Otelo, Fernanda Montenegro ou Catherine Deneuve. Personalidades que superaram ou superarão a morte, pois suas obras permanecem sendo apreciadas pelos que ficam, num tipo muito nobre de eternidade.
Para os nossos alunos que acham que esses exemplos estão muito longe de nós, basta lembrar-nos de exemplos mais próximos. Há alguns dias tivemos aqui na escola a Orquestra Marafreboi, composta por músicos muito competentes e dispostos a compartilhar com nossas crianças e adolescentes a alegria que sentem numa roda de Maracatu ou em uma Ciranda. Partilharam conosco um momento que levaremos enquanto estivermos vivos, isso sim é uma recompensa.
Pense na palestra que tivemos para alertá-los sobre o perigo de abusos de adultos contra crianças e adolescentes: apesar dos vários casos que acontecem, alguém resolveu dizer não, dar a mão às vítimas e lutar contra este tipo de crime, que pode ter consequências muito tristes, o que é revoltante. São as lutas que justificam a vida.
A cada dia se aproxima o dia em que você poderá fazer alguma coisa, explorar aquilo que na vida te fascina e te faz sentir bem por estar vivo. Seja tocando uma música, na sala de aula, em uma quadra de esportes, dirigindo um carro, descendo um desfiladeiro, conversando com os amigos, criando uma grande empresa, ajudando a tirar uma baleia que encalhou na praia, está chegando a sua hora de decidir qual vai ser a sua contribuição, aquilo que te faz querer ajudar. Quando encontrarmos nossa razão para viver mais e o quanto puder, não importa quando, poderemos morrer em paz.
[1] http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/11/brasileiro-nasce-com-esperanca-de-vida-de-74-anos-e-29-dias-diz-ibge.html. Acesso em 08 de junho de 2013.
[2] http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2013/05/02/estudo-decifra-o-processo-de-envelhecimento.htm . Acesso em 08 de junho de 2013.
* Texto elaborado para atividades de alunos de sétima e oitava séries do Ensino regular.