Crônica a partir do romance Sangue divino (em produção)
por Luana Morena
Nossa, mas por que Filosofia??! Por que não Filosofia?!! Parece pouco importante estudar o que já foi refletido a respeito do que somos, de onde viemos e para onde vamos?! A curiosidade filosófica é a mais importante do mundo!... As pessoas não param para pensar nas perguntas que muitas vezes fazem. Se parassem, talvez percebessem que aquela pergunta é mais que uma pergunta, é uma tentativa de agressão, velada somente para os estúpidos.
Contudo, não irei continuar minha crônica neste mal humor, afinal ela é sobre o meu primeiro dia de aula na faculdade,
e este começou muito bem. Acordei com uma sensação boa, diferente em outras estreias que tive na vida. Claro que algum professor falaria sobre os filósofos da natureza, afinal, eles foram os primeiros! Foi o pensamento da véspera reforçado ao abrir os olhos. Tales de Mileto, meu precursor primordial seria agora mais íntimo do que sempre fora.
O Campus é lindo! Conheci no dia da matrícula, mas naquela ocasião não consegui ver quase nada. A recepção foi
um grande tumulto porque os estudantes se atrasaram ao mesmo tempo. A maioria estava presa no trânsito causado
por protesto contra o antiCristo na Afonso Pena. No início das aulas foi outra coisa, posso dizer que estava emocionado. Muitos alunos, muitas conversas, um clima aconchegante. Na porta da sala, eu conhecia o Michel do cursinho,
como ele estava só, puxei papo; e conversávamos sobre as matérias que pegamos.
Primeira aula, todos sentados, levemente alegres, pois contínhamos-nos. Começou o Seminário em Filosofia Grega,
com a professora Jasmine. E, claro que ela falou sobre os filósofos da natureza!Tales, Anaximandro, Anaxímenes...
Mileto estava toda representada. Os alunos mais afoitos acrescentavam comentários e Jasmine gostava. Projetou imagens fantásticas, e até com trilha sonora nos contemplou.
− Professora, eu posso dizer então que Tales previu a Terra primitiva quando afirmou que o elemento primordial da vida
é a água?
− É uma afirmação bastante plausível, já que a teoria dele, de que a vida se originou da água, foi comprovada por Darwin, quase dois mil e trezentos anos depois.
Acrescentou ainda ser ele o pensador responsável pelo fim da explicação mítica para os fenômenos naturais, tão difundida e aceita na Grécia Antiga. Um grande feito para alguém que dispunha apenas do discurso oral para transmitir suas ideias; sendo por citações posteriores, em outros famosos autores, que conhecemos a tão importante contribuição do homem considerado pai da Filosofia.
A porta da sala estava aberta quando aconteceu. Antes de chegarmos em Sócrates, o céu lá fora, fechado pelo tempo chuvoso, numa velocidade inacreditável, simplesmente se abriu em um ponto, com um fundo azul e uma luz forte saindo apenas dali. O que poderia ser aquilo? Por um momento, me virei para os olhares estupefatos e estapafúrdios
de meus colegas e foi quando vi neles uma reação bestial a esse algo lá fora. Olhei imediatamente e qual também não foi
a minha surpresa... Um homem numa túnica descia das nuvens, andando, e elas se deformavam em escadas aos seus pés e prometiam levá-lo até o solo.
Alguém gritou: − Jesus, santíssimo!
Eu e alguns não sabíamos como reagir àquilo. Eu vi lágrimas nos olhos de Jasmine, lágrimas de terrível decepção. Alguns alunos prostraram-se, outros mostravam extrema preocupação, outros desceram correndo, em júbilo. Eu não sabia
como reagir, então só assistia.
− Não tenho nenhuma dúvida! É Jesus Cristo! É Jesus, meu Deus, eu tenho que me arrepender dos meus pecados! Arrependam-se todos, antes que seja tarde!
Entre outras exaltações cristãs. As nuvens levaram Jesus até à Faculdade de Música, segundo me disseram, e em muito pouco tempo, uma enorme correria de pessoas vindo sei lá de onde, pareciam que brotavam do chão, lotou todo o lugar. Não víamos mais a grama do Campus, só havia pessoas, até em cima das árvores! Eu e o Michel fomos os últimos a sair. Aguardamos a professora juntar as coisas dela e descemos para o primeiro andar. Os choros, desesperos e os gritos de aleluia ecoavam como uma mudança abrupta de cenário. A UFMG tornara-se a nova Jerusalém, e no meu primeiro dia de aula.
por Luana Morena
Nossa, mas por que Filosofia??! Por que não Filosofia?!! Parece pouco importante estudar o que já foi refletido a respeito do que somos, de onde viemos e para onde vamos?! A curiosidade filosófica é a mais importante do mundo!... As pessoas não param para pensar nas perguntas que muitas vezes fazem. Se parassem, talvez percebessem que aquela pergunta é mais que uma pergunta, é uma tentativa de agressão, velada somente para os estúpidos.
Contudo, não irei continuar minha crônica neste mal humor, afinal ela é sobre o meu primeiro dia de aula na faculdade,
e este começou muito bem. Acordei com uma sensação boa, diferente em outras estreias que tive na vida. Claro que algum professor falaria sobre os filósofos da natureza, afinal, eles foram os primeiros! Foi o pensamento da véspera reforçado ao abrir os olhos. Tales de Mileto, meu precursor primordial seria agora mais íntimo do que sempre fora.
O Campus é lindo! Conheci no dia da matrícula, mas naquela ocasião não consegui ver quase nada. A recepção foi
um grande tumulto porque os estudantes se atrasaram ao mesmo tempo. A maioria estava presa no trânsito causado
por protesto contra o antiCristo na Afonso Pena. No início das aulas foi outra coisa, posso dizer que estava emocionado. Muitos alunos, muitas conversas, um clima aconchegante. Na porta da sala, eu conhecia o Michel do cursinho,
como ele estava só, puxei papo; e conversávamos sobre as matérias que pegamos.
Primeira aula, todos sentados, levemente alegres, pois contínhamos-nos. Começou o Seminário em Filosofia Grega,
com a professora Jasmine. E, claro que ela falou sobre os filósofos da natureza!Tales, Anaximandro, Anaxímenes...
Mileto estava toda representada. Os alunos mais afoitos acrescentavam comentários e Jasmine gostava. Projetou imagens fantásticas, e até com trilha sonora nos contemplou.
− Professora, eu posso dizer então que Tales previu a Terra primitiva quando afirmou que o elemento primordial da vida
é a água?
− É uma afirmação bastante plausível, já que a teoria dele, de que a vida se originou da água, foi comprovada por Darwin, quase dois mil e trezentos anos depois.
Acrescentou ainda ser ele o pensador responsável pelo fim da explicação mítica para os fenômenos naturais, tão difundida e aceita na Grécia Antiga. Um grande feito para alguém que dispunha apenas do discurso oral para transmitir suas ideias; sendo por citações posteriores, em outros famosos autores, que conhecemos a tão importante contribuição do homem considerado pai da Filosofia.
A porta da sala estava aberta quando aconteceu. Antes de chegarmos em Sócrates, o céu lá fora, fechado pelo tempo chuvoso, numa velocidade inacreditável, simplesmente se abriu em um ponto, com um fundo azul e uma luz forte saindo apenas dali. O que poderia ser aquilo? Por um momento, me virei para os olhares estupefatos e estapafúrdios
de meus colegas e foi quando vi neles uma reação bestial a esse algo lá fora. Olhei imediatamente e qual também não foi
a minha surpresa... Um homem numa túnica descia das nuvens, andando, e elas se deformavam em escadas aos seus pés e prometiam levá-lo até o solo.
Alguém gritou: − Jesus, santíssimo!
Eu e alguns não sabíamos como reagir àquilo. Eu vi lágrimas nos olhos de Jasmine, lágrimas de terrível decepção. Alguns alunos prostraram-se, outros mostravam extrema preocupação, outros desceram correndo, em júbilo. Eu não sabia
como reagir, então só assistia.
− Não tenho nenhuma dúvida! É Jesus Cristo! É Jesus, meu Deus, eu tenho que me arrepender dos meus pecados! Arrependam-se todos, antes que seja tarde!
Entre outras exaltações cristãs. As nuvens levaram Jesus até à Faculdade de Música, segundo me disseram, e em muito pouco tempo, uma enorme correria de pessoas vindo sei lá de onde, pareciam que brotavam do chão, lotou todo o lugar. Não víamos mais a grama do Campus, só havia pessoas, até em cima das árvores! Eu e o Michel fomos os últimos a sair. Aguardamos a professora juntar as coisas dela e descemos para o primeiro andar. Os choros, desesperos e os gritos de aleluia ecoavam como uma mudança abrupta de cenário. A UFMG tornara-se a nova Jerusalém, e no meu primeiro dia de aula.